quinta-feira, 2 de agosto de 2007

TANTRA, APRESENTAÇÃO CONTEXTUALIZADA
















Tantra, Apresentação Contextualizada.

Sobre uma definição para o Tantra, digo que Tantra é uma tradição de arte ou sabedoria preservada dentro de uma determinada família e transmitida de geração em geração. Isto implica em que cada família tem o seu próprio Tantra, a ser preservado em segredo para assegurar o fortalecimento dessa família e de seus membros. O Tantra é uma cultura de família, que pretende assegurar a integridade e a identidade de cada uma delas através do tempo passando este conhecimento de geração em geração. Aquilo que recebemos como cultura e sabedoria forma nossa base familiar, de onde herdamos nossos valores, modos e qualidades.

Esta interpretação dos símbolos, Yantras e seus significados , os Mantras, encerram um ciclo que se forma entre a “forma” e o “assunto”, recebidos em nossa educação e formação de valores. Não sendo uma pessoa produto de uma família tantrica, isto é não possuindo esta família, e este sentido da cultura, deve ela procurar um guru, com o qual pode aprender o Tantra e então começar na sua família esta corrente de significados e significantes para as próximas gerações.

Obras tântricas também se definem como a pura ciência dos Yantras e dos Mantras, das “formas” e dos “assuntos”. Neste contexto o conhecimento correto dos Tattvas, ontologia do Universo, e dos Yantras e Mantras são fundamentais. O Tantra está bastante vinculado à palavra, em especial a palavra escrita, foram os tântricos que desenvolveram o alfabeto Devanagari, que é a escrita do sânscrito, uma língua especial, e por conseqüência a transmissão do conhecimento e da cultura através destes significados e sugnificantes.

Uma tradição tantrica sempre tem uma exposição dos Tattvas e da conceituação de Mantra e Yantra, segundo a interpretação daquela linhagem de Tantra.

YANTRA

A fase Yantra do Tantra é aquela onde entramos em contato com o símbolo, com as imagens do mundo e com elas estabelecemos uma relação quantitativa, um gozo ainda sem sintomas. Um gozo dos objetos do mundo, e eles nos dão uma felicidade, esta fase é chamada a fase do Yoga, da união em êxtase com as coisas da vida. Esta fase rica em insights produz um conhecimento sobre si mesmo, mas estes êxtases sempre revelam mais sobre si mesmo do que podemos aprender. Ou seja, nosso gozo positivo do mundo decresce a medida que “nos conhecemos”. A fase Yantra produz um “assunto” interno, um significante que ainda não é verbalizado, é uma sensação estranha de existência ambígua, é o Turyam. O Turyam é um estado de consciência que não é a vigília e nem o sono e nem o sonho, mas está em todas estas fases. É uma continuidade do Ser que agora começa a lidar com os “sintomas do gozo”. Os sintomas são as sensações desagradáveis advindas do gozo dos objetos. Em uma fase da vida tudo começa a gerar uma dor, um sofrimento, no linguajar popular, mas é um gozo, da mesma natureza do gozo anterior da felicidade e do êxtase, agora desagradável, mas ainda um gozo. O mecanismo interior ou Antahkarana ou nossa psique começa a lidar com esta insatisfatoriedade de uma forma nova, promovendo a transcendência, assim surge a meditação, o Turyam, o primeiro impulso transcendente.


1- Yoga ou a “felicidade” da união. É a fase onde nos unimos àquilo que desejamos O tantra é a "verdade do organismo", e isto gera insights de si mesmo, e sempre revela mais informação que somos capazes de aprender.

2- Surgem os "sintomas" , o "sintoma" é um fulcro, a forma de continuar a obter satisfação, sem o gozo e sem a ligação com si mesmo, mas o senso comum o entende como "sofrimento". Turyam é o começo da transcendência dos "sintomas", do "sofrimento".



MANTRA

Lá pela meia idade, apesar do individuo falar bem, escrever bem e se comunicar bem, começa a surgir uma incapacidade de comunicação efetiva daquilo que se passa dentro de si mesmo e de comunicar isto aos outros, geralmente é assim que terminam suas vidas as pessoas sem o contato com a tradição tantrica, tomados de “sintomas” e sem comunicação consigo mesmo e com o mundo. Sendo iniciado, ele aprende a ampliar-se, isto é encontrar sua voz e a carga de afeto dentro da palavra, que assim é um Mantra, sua palavra que agora encontra sentido corrente, vivo dentro de si mesmo. Cada conexão consigo mesmo, agora é uma liberdade, porque o caminho está reencontrado, pela fala e pelo afeto na palavra. Então temos aos poucos a entrada no Satyam, na verdade, na fé na verdade e em si mesmo, onde o Ser amplia-se ao máximo. A fase de gozo fálico, do linga que representa o gozo do mundo através dos objetos,o Yantra, ele é aqui, no Mantra, substituído pelo gozo da palavra e da aproximação do ideal, do eu ideal, Shiva. A palavra encontrada como ligação aos valores de seu grupo social e a sua família são ampliados, e isto é kshanti.


3- Para suportar esta proximidade de si mesmo, é preciso ampliar-se , Kshanti. Encontrar sua voz que se liga aos seus “assuntos”. Sua Palavra.

4- Para a verdade ser estabelecida é preciso nomeá-la, Satyam. A voz encontra novamente o Ser pela Palavra, e agora esta palavra tem uma base , que é a fé na verdade.


KUNDALINÍ

O gozo dos samadhis construiu uma cadeia de significantes, “símbolos” e “assuntos”, lá na infância e na adolescência, que não encontraram relevância no mundo externo, mas que formaram o Ser; o Ser começa a tentar transcender o seu gozo, até que pode ampliar-se pela sua cultura; encontra a palavra como elo de ligação entre si mesmo; este elo reforça-se com a verdade e finalmente o Ser encontra a si mesmo quando todo o resto de seu gozo é “queimado” pela energia. Resto eliminado, o Ser conversa com o mundo da mesma forma com que é em si mesmo.


5- Todo o "resto" desaparece de uma só vez, e este evento fulgurante é Kundaliní.

RESUMO

Um Yantra é um registro ocasionado por um símbolo e que produz um Mandala, uma cadeia de registros significativos entre si estabelecendo uma comunicação entre o Ser e o meio e gerando um Mantra, um “assunto” interno relativo ao Ser e a sua ligação, ou Yoga, ou união entre o Icchá, o desejo e o Samadhi, o gozo. Primeiramente este ser uroborico estava muito próximo ao seu gozo, pois ele era tudo no universo, não havia distinção entre ele e sua mãe, ou o mundo. Ele era o mundo e o mundo era ele. As medidas da negação distanciaram o seu desejo de seu gozo, distanciam o seu Icchá, a sua vontade, de seu gozo, sendo preenchidos pelos registros, pelos símbolos, pelos Yantras, que formam a ligação satisfatória, simbólica, a sua cadeia de significantes entre si mesmo e o outro. Cada vez mais a união com o seu gozo o aproxima em um primeiro momento e o afasta em um segundo momento, de si mesmo, criando um espaço entre o Ser e o si mesmo, espaço a ser re percorrido sempre entre o desejo, a vontade e o gozo, o samadhi; entre a vontade de ser si mesmo e o êxtase advindo de estar sendo pelo gozo. Cada vez mais seu Yoga, sua união consigo mesmo se complexifica em vários caminhos de cadeias de significantes ou Mandalas e assuntos ou Mantras. Na fase adulta convivemos com a tensão desta distância de si mesmo, intercalada pelo repertorio que geramos, de Mandalas e Mantras.

Somos o si mesmo quando existe a união entre o desejo e o gozo, união pela cadeia de significantes, estabelecidos pela linguagem e pela palavra, o Mantra. Rompida esta união, é gerada a pulsão, a distância gritante, que pulsa e vibra exigindo esta reunião e que não encontra completitude no gozo sexual.