quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Sexo Tantrico



Fala-se hoje muito do sexo tantrico, em torno do assunto há um mistério que fazem girar as cabeças e revolver necessidades. O sexo tantrico não tem nenhuma manobra de prolongar o prazer ou multiplicar o gozo sexual, na prática ele é uma resignificação dos papéis sexuais, feita com a finalidade de permitir que sexo e amor sejam possíveis em uma relação a dois. Tem recaido sobre o feminino a culpabilidade de não ter um papel definido, entre ser mãe e mulher, mas este paradoxo é causado pelo comportamento masculino, onde a mulher é uma adaptação ao masculino e suas necessidades. O gozo masculino encerra a relação, interrompe um fluxo de amor, corta, abandona o feminino, lha caindo como abandono, abandono este que será trabalhado como nostalgia de um amor que não perca seu interesse no gozo sexual. Muitos homens sentem que interromperam algo fundamental e partem para a filosofia pos coito frustrado, digo frustrado pois todo coito não tantrico é frustrado, mesmo com dezenas de gozos em êxtase. Este reatamento, resignificação, se dará para os dois por estímulos fora da relação, com a quebra do amor, os dois vão a campo nutrir-se de outras relações, fantasiadas ou insinuadas para alimentar e resiginificar a relação com seu amor. O tantra tomado como sexo tantrico tem que resolver esta questão na esfera dos dois, e isto somente pode ocorrer se o macho da relação abdicar completamente de sua fêmea como objeto de gozo e ela desarmar sua fantasia narcisica de ser o objeto de gozo, esta inversão produz a simbolização do falo masculino como objeto, centro de poder e de amor, trazido para o real e para o simbolico ao mesmo tempo, como sexo e como amor. O "falo" tornado linga é o inicio daquilo que pode ser o sexo tantrico, que é o sexo que é amor e que é transcendência.

O vinculo entre sexo e amor está aberto até hoje na nossa sociedade, é este vinculo que o "sexo tantrico" reata, segundo nossa ontologia, nossa formação física e psíquica. Sem este vinculo todos somos portadores da neurose ordinária, comum, a ferida narcísica da sexualização dos nossos pais a voltar e exigir resolução. Falar em transcendência sem o vinculo entre sexo e amor resolvido é manipular onipotentemente a realidade, viver na alienação.

Sem o tantra e o resgate do sexo tantrico vive o homem sua insegurança e a mulher a sua nostalgia de algo não realizado. A revivencia do sentimento de desamparo feminino e da insegurança masculina como marca, como ferida psíquica com a qual lutaremos ate a morte.

O amor tratado sem o sexo tantrico é visto como insuficiência cotidiana, como falta, espaço em aberto, vazio que nos ataca quando nossa tolerância a frustração está em baixa.

Reagir a esta falta é justamente criar um vinculo entre sexo e amor, restabelecer a ordem natural das coisas, buscar no sexo um reatamento e não mais uma separação.


quinta-feira, 2 de agosto de 2007

TANTRA, APRESENTAÇÃO CONTEXTUALIZADA
















Tantra, Apresentação Contextualizada.

Sobre uma definição para o Tantra, digo que Tantra é uma tradição de arte ou sabedoria preservada dentro de uma determinada família e transmitida de geração em geração. Isto implica em que cada família tem o seu próprio Tantra, a ser preservado em segredo para assegurar o fortalecimento dessa família e de seus membros. O Tantra é uma cultura de família, que pretende assegurar a integridade e a identidade de cada uma delas através do tempo passando este conhecimento de geração em geração. Aquilo que recebemos como cultura e sabedoria forma nossa base familiar, de onde herdamos nossos valores, modos e qualidades.

Esta interpretação dos símbolos, Yantras e seus significados , os Mantras, encerram um ciclo que se forma entre a “forma” e o “assunto”, recebidos em nossa educação e formação de valores. Não sendo uma pessoa produto de uma família tantrica, isto é não possuindo esta família, e este sentido da cultura, deve ela procurar um guru, com o qual pode aprender o Tantra e então começar na sua família esta corrente de significados e significantes para as próximas gerações.

Obras tântricas também se definem como a pura ciência dos Yantras e dos Mantras, das “formas” e dos “assuntos”. Neste contexto o conhecimento correto dos Tattvas, ontologia do Universo, e dos Yantras e Mantras são fundamentais. O Tantra está bastante vinculado à palavra, em especial a palavra escrita, foram os tântricos que desenvolveram o alfabeto Devanagari, que é a escrita do sânscrito, uma língua especial, e por conseqüência a transmissão do conhecimento e da cultura através destes significados e sugnificantes.

Uma tradição tantrica sempre tem uma exposição dos Tattvas e da conceituação de Mantra e Yantra, segundo a interpretação daquela linhagem de Tantra.

YANTRA

A fase Yantra do Tantra é aquela onde entramos em contato com o símbolo, com as imagens do mundo e com elas estabelecemos uma relação quantitativa, um gozo ainda sem sintomas. Um gozo dos objetos do mundo, e eles nos dão uma felicidade, esta fase é chamada a fase do Yoga, da união em êxtase com as coisas da vida. Esta fase rica em insights produz um conhecimento sobre si mesmo, mas estes êxtases sempre revelam mais sobre si mesmo do que podemos aprender. Ou seja, nosso gozo positivo do mundo decresce a medida que “nos conhecemos”. A fase Yantra produz um “assunto” interno, um significante que ainda não é verbalizado, é uma sensação estranha de existência ambígua, é o Turyam. O Turyam é um estado de consciência que não é a vigília e nem o sono e nem o sonho, mas está em todas estas fases. É uma continuidade do Ser que agora começa a lidar com os “sintomas do gozo”. Os sintomas são as sensações desagradáveis advindas do gozo dos objetos. Em uma fase da vida tudo começa a gerar uma dor, um sofrimento, no linguajar popular, mas é um gozo, da mesma natureza do gozo anterior da felicidade e do êxtase, agora desagradável, mas ainda um gozo. O mecanismo interior ou Antahkarana ou nossa psique começa a lidar com esta insatisfatoriedade de uma forma nova, promovendo a transcendência, assim surge a meditação, o Turyam, o primeiro impulso transcendente.


1- Yoga ou a “felicidade” da união. É a fase onde nos unimos àquilo que desejamos O tantra é a "verdade do organismo", e isto gera insights de si mesmo, e sempre revela mais informação que somos capazes de aprender.

2- Surgem os "sintomas" , o "sintoma" é um fulcro, a forma de continuar a obter satisfação, sem o gozo e sem a ligação com si mesmo, mas o senso comum o entende como "sofrimento". Turyam é o começo da transcendência dos "sintomas", do "sofrimento".



MANTRA

Lá pela meia idade, apesar do individuo falar bem, escrever bem e se comunicar bem, começa a surgir uma incapacidade de comunicação efetiva daquilo que se passa dentro de si mesmo e de comunicar isto aos outros, geralmente é assim que terminam suas vidas as pessoas sem o contato com a tradição tantrica, tomados de “sintomas” e sem comunicação consigo mesmo e com o mundo. Sendo iniciado, ele aprende a ampliar-se, isto é encontrar sua voz e a carga de afeto dentro da palavra, que assim é um Mantra, sua palavra que agora encontra sentido corrente, vivo dentro de si mesmo. Cada conexão consigo mesmo, agora é uma liberdade, porque o caminho está reencontrado, pela fala e pelo afeto na palavra. Então temos aos poucos a entrada no Satyam, na verdade, na fé na verdade e em si mesmo, onde o Ser amplia-se ao máximo. A fase de gozo fálico, do linga que representa o gozo do mundo através dos objetos,o Yantra, ele é aqui, no Mantra, substituído pelo gozo da palavra e da aproximação do ideal, do eu ideal, Shiva. A palavra encontrada como ligação aos valores de seu grupo social e a sua família são ampliados, e isto é kshanti.


3- Para suportar esta proximidade de si mesmo, é preciso ampliar-se , Kshanti. Encontrar sua voz que se liga aos seus “assuntos”. Sua Palavra.

4- Para a verdade ser estabelecida é preciso nomeá-la, Satyam. A voz encontra novamente o Ser pela Palavra, e agora esta palavra tem uma base , que é a fé na verdade.


KUNDALINÍ

O gozo dos samadhis construiu uma cadeia de significantes, “símbolos” e “assuntos”, lá na infância e na adolescência, que não encontraram relevância no mundo externo, mas que formaram o Ser; o Ser começa a tentar transcender o seu gozo, até que pode ampliar-se pela sua cultura; encontra a palavra como elo de ligação entre si mesmo; este elo reforça-se com a verdade e finalmente o Ser encontra a si mesmo quando todo o resto de seu gozo é “queimado” pela energia. Resto eliminado, o Ser conversa com o mundo da mesma forma com que é em si mesmo.


5- Todo o "resto" desaparece de uma só vez, e este evento fulgurante é Kundaliní.

RESUMO

Um Yantra é um registro ocasionado por um símbolo e que produz um Mandala, uma cadeia de registros significativos entre si estabelecendo uma comunicação entre o Ser e o meio e gerando um Mantra, um “assunto” interno relativo ao Ser e a sua ligação, ou Yoga, ou união entre o Icchá, o desejo e o Samadhi, o gozo. Primeiramente este ser uroborico estava muito próximo ao seu gozo, pois ele era tudo no universo, não havia distinção entre ele e sua mãe, ou o mundo. Ele era o mundo e o mundo era ele. As medidas da negação distanciaram o seu desejo de seu gozo, distanciam o seu Icchá, a sua vontade, de seu gozo, sendo preenchidos pelos registros, pelos símbolos, pelos Yantras, que formam a ligação satisfatória, simbólica, a sua cadeia de significantes entre si mesmo e o outro. Cada vez mais a união com o seu gozo o aproxima em um primeiro momento e o afasta em um segundo momento, de si mesmo, criando um espaço entre o Ser e o si mesmo, espaço a ser re percorrido sempre entre o desejo, a vontade e o gozo, o samadhi; entre a vontade de ser si mesmo e o êxtase advindo de estar sendo pelo gozo. Cada vez mais seu Yoga, sua união consigo mesmo se complexifica em vários caminhos de cadeias de significantes ou Mandalas e assuntos ou Mantras. Na fase adulta convivemos com a tensão desta distância de si mesmo, intercalada pelo repertorio que geramos, de Mandalas e Mantras.

Somos o si mesmo quando existe a união entre o desejo e o gozo, união pela cadeia de significantes, estabelecidos pela linguagem e pela palavra, o Mantra. Rompida esta união, é gerada a pulsão, a distância gritante, que pulsa e vibra exigindo esta reunião e que não encontra completitude no gozo sexual.

sábado, 7 de julho de 2007

O Universo segundo o Tantra



O Universo segundo o Tantra

Mestre Bhava.




I. Princípios Universais ( Tattvas de 1 a 5)

1. Shiva (O sempre Benevolente) aspecto “masculino” ou Consciência de realidade bipolar definitiva.
2. Shakti (O Poder dele) aspecto “feminino” ou Poder da realidade bipolar definitiva que polariza a consciência no Eu (aham) e no Isso (idam) ou entre o “sujeito” e o “objeto”, mas separa-os de forma dual. O poder primordial do Eu.
3. Sadakhya (Aquele que é chamado de Ser) é a vontade transcendental que reconhece e afirma “Eu sou isso” com a ênfase no “Eu” em vez de no objeto ou objetivo do “Isso” do Ser universal.
4. Ishvara (O Senhor) É o Criador, que corresponde a realização do “ Isso sou Eu”, enfatizando de mudo sutil o lado objetivo do Ser e, portanto estabelecendo o estágio para a evolução cósmica. Ele mesmo se criou.
5. Sad-Vidya (O Conhecimento do Ser) É o estado de equilíbrio estabelecido entre o subjetivo e o objetivo, que são agora distinguíveis no interior do Ser.

II. Princípios Limitantes (Tattva 6)

6. Maya (Aquela que mensura, que mede) O poder de ilusão inerente na Realidade Definitiva pela qual o Ser parece estar limitado e mensurável através da separação do sujeito e objeto, que assinala o início da ordem mais impura da existência.

Princípios das cinco coberturas ( Tattvas do 7 ao 11)

7. Kalã (A Parte) O princípio da criação pela qual a consciência se torna limitada.
8. Vidya (O Conhecimento) O princípio pelo qual a onisciência da criação é reduzida, causando o conhecimento finito.
9. Raga (A Ligação) O princípio pelo qual a inteireza da Consciência se rompe, dando origem ao desejo por experiências parciais.
10. Kãla (O Tempo) O princípio pelo qual a consciência eterna é reduzida à existência temporal, com passado, presente e futuro.
11. Niyati (A Necessidade) O princípio pelo qual a independência e impregnação da consciência são rompidas, ocasionando limitação relativa à causa espaço e forma.




III. Princípios de Individuação.

12. Purusha (O Homem) ou Anu (átomo). O sujeito consciente, ou o Self que vivencia a realidade objetiva.
13. Prakriti (A Nutriz). A realidade plenamente objetificada, ou natureza, que é exclusiva de cada sujeito consciente.

IV. Princípios de Instrumento Interior. (Antahkarana)

14. Buddhi (A Compreensão). A faculdade mental da inteligência, que é caracterizada pela capacidade para fazer distinções.
15. Ahamkara (O Eu-artífice). O princípio da individuação pelo qual uma pessoa se apropria de experiências (“eu fiz isso”, “eu sou assim” etc).
16. Manas (A Mente). A faculdade mental que sintetiza as impressões sensoriais iminentes na totalidade de conceitos e imagens.

V. Princípios de Experiência

Os cinco poderes da Cognição. (Jñanendriya)

17. Ghrana (Aroma).
O sentido do olfato.
18. Rasa (Gosto). O sentido do paladar.
19. Cakshus (Olhar, ver). O sentido da visão.
20. Sparsha (Toque). O sentido do tato.
21. Sharavana (Audição). O sentido auditivo.

Os cinco poderes da Cognação. (Karmendriya)

22. Vac (Fala). A faculdade da comunicação.
23. Hasta (Mão). A faculdade de manipulação.
24. Pada (Pé). A faculdade da locomoção.
25. Payu (Anus). A faculdade digestoria.
26. Upastha (Genitais). A faculdade da procriação.

Os Cinco elementos sutis. (Tanmatra)

27. Shabda-tanmatra (Elemento sutil do som). O potencial para percepção auditiva.
28. Sparsha-tanmatra (Elemento sutil do toque). O potencial para percepção tátil.
29. Rupa-tanmatra (Elemento sutil da Visão). O potencial para percepção visual.
30. Rasa-tanmatra (Elemento sutil do paladar). O potencial para percepção gustativa.
31. Gandha-tanmatra (Elemento sutil do Aroma). O potencial para percepção olfativa.




VI. Princípios de Materialidade

32. Akasha-Bhuta (Elemento de Éter). O princípio da vacuidade produzido a partir do elemento sutil do som.
33. Vayu-Bhuta (Elemento do Ar). Princípio da mobilidade produzido a partir do elemento sutil do tato.
34. Agni-Bhuta (Elemento do fogo). Princípio da formação produzido a partir do elemento sutil da visão.
35. Apa-Bhuta (Elemento da Água). Princípio da liquidez produzido a partir do elemento sutil do paladar.
36. Prithivi-Bhuta (Elemento da Terra). O princípio da solidez produzido a partir do elemento sutil do olfato.

Baseado na escola Prathyabijna Tantra ou Trika.


Bhavazen@globo.com


quinta-feira, 21 de junho de 2007

KUNDALINÍ


Kundaliní

Um dos assuntos mais difíceis no contexto da filosofia Tantrica e que sempre leva a caminhos contraditórios, é sobre Kundaliní. Para o Tantra as energias são chamadas de Shaktis e a Consciência é chamada de Shiva. O que é exatamente Kundaliní? Se imaginarmos uma energia em seu estado potencial ou estática, isto é Kundaliní, sabemos que toda energia do Universo já está em alguma forma dinâmica, portanto Kundaliní em sua forma potencial é uma heurística, uma idéia para um uso, mas na prática esta idéia é indefinida. Assim como foi usado o termo libido,a fonte das pulsões por Freud, Kundaliní é uma heurística do Tantra. Em seu estado universal, considerando todo o universo, esta energia, é a energia do universo, é Purna-Shakti ou Purna-Kundaliní, o poder no universo inteiro, o poder cósmico, a energia cósmica já manifestada. Quando vista como energia vital, então Kundaliní é Prana-Shakti ou Prana-Kundaliní, disponível como energia no corpo e pelo corpo em varias modalidades como luz, calor, eletricidade etc Em um terceiro aspecto esta energia se manifesta como consciência Cit, Cit-Shakti ou Cit-Kundaliní, também conhecido como Urdhva Kundaliní pelo seu aspecto de revelar ou elevar a consciência. Então temos dois aspectos da energia, como força vital, Prana e como pensamento, Cit. A Iluminação reside em revelar a consciência pelo uso dos meios vitais, mas não no despertar do poder cósmico, pois este poder já produziu seu fim, em todo o Universo, como Purna-Kundaliní, mas como Prana-Kundaliní

Em algum nível a consciência e a energia do universo estão sempre conectados desde sua origem, logo a consciência em si é um Todo de energia e consciência, em todo o Universo. Este nível onde consciência e a energia estão conectadas, é o Caos, ou a barreira existencial, onde não há o tempo e nem o espaço. Interesse de atual Física Quântica. Então, segundo o Tantra a aparente dualidade, revela pelos meios do Prana ou força vital, aspectos deste mesmo Todo, como luz, imagem, calor, eletricidade etc A energia Kundaliní “desperta” para a consciência, àqueles mesmos aspectos com que a consciência identifica-se, reconhece-se sempre através dos meios vitais.

Qualquer operação com energia alude a uma entropia. Um critério básico para se lidar com energia, é que ela se conserva, ou seja, sempre em qualquer sistema, a quantidade de energia gerada é a mesma que produziu o trabalho. Quando uma parte da energia não pôde ser transformada em trabalho, isto é entropia, esta formação energética em desordem é creditada ao Caos, ao universo das possibilidades, quanto maior a desordem maior a entropia. No nosso corpo a energia produz diversos tipos de trabalho, como calor, eletricidade, reações químicas, movimentos etc o que é comum a todos em momentos de atividade. O Tantra percebeu que a entropia se acentuava, no sono e no recolhimento da meditação, quando naturalmente ou propositadamente um individuo fica parado e sentado, e aí ocorriam fenômenos como visão de luzes, audição de sons, sensações etc Este universo de energias que utilizamos foram chamadas de Shaktis e a energia não utilizada era a Maha-Shakti, Kundaliní, ou o potencial energético,a entropia do Ser. Deste ponto surgiram duas teorias, a da ascensão deste potencial energético, como teoria da subida, Uccara, desta força vital remanescente, e a teoria SpandaTantra, da vibração sutil desta força transcendente, termo que significa, “quase movimento”. A teoria UccaraTantra se apóia nas etapas através dos Chakras, onde esta força destruiria os sons, as Matrikas, sementes sonoras dos Chakras desativando-os, portanto libertando o adepto de seu Karma, desfazendo os condicionamentos, até que por fim ao chegar ao topo da cabeça, promoveria a iluminação. A teoria SpandaTantra, parte da ativação do Chakra superior, pois compreende que a consciência, Shiva, o si mesmo, é a fonte de todos os movimentos manifestos não havendo nada que possa ser feito com energia no sentido de separa-la da consciência, pois em nenhum momento há esta separação real, nesta corrente a entropia é usada para beneficiar o corpo, a mente e as emoções, promovendo descanso, e perfeito funcionamento do todo, como no sono e nos sonhos, mas tudo de forma consciente e proposital. Foi o SpandaTantra que deu origem ao Tantra, como uma filosofia coerente e praticável, como escolas de reconhecimento, ou Pratyabhijna. Foi o uso daquilo que é desprezível, aquilo que não resulta no trabalho, que foi o caminho do tantra, pois ele não acredita no conhecimento, mas usa o poder energético que sobra para realizar o Todo. Foi esta guinada histórica que colocou o Tantra como filosofia efetiva de realização. O Yoga adotou mais os aspectos dinâmicos deste desenvolvimento, como algo por fazer, para se chegar ao entendimento, mas o Tantra, propõe que antes de qualquer prática se compreenda seu ponto de vista, e se busque a lucidez da iluminação para então praticá-lo, a prática consiste em viver segundo o ponto de vista do sagrado, do iluminado. Esta posição do Tantra pode parecer muito desconcertante para a maioria, pois crêem em algum sistema, que pela energia a consciência possa ser atingida ou que pela consciência a energia possa ser revelada.

Certamente não sabemos para onde nem quando a energia, Kundaliní se move, e não importa ao Tantra ter este conhecimento, mas conhecendo seus aspectos usá-lo para viver melhor, se conhecer e desfrutar de ser o si mesmo, aqui e agora. Porque então em qualquer tempo e debaixo de quaisquer condições saberemos que somos, independente do lugar, época ou condição.

De qualquer forma, o conhecimento histórico dos períodos de desenvolvimento do Tantra, e da concepção de Kundaliní são fundamentais para se compreender o esforço e o resultado do Tantra através das gerações. É a compreensão não dinâmica do Universo que produz a ilusão de um fim, uma consciência a ser encontrada, ilusão que se revela sem fim, em desdobramentos infinitos, em um jogo ilusório interminável. O Tantra leva o Ser a reconhecer a si mesmo e então a viver este estado. Kundaliní é o meio, pois manifesta este poder, para beneficio do corpo, e de suas funções que devem chegar a um grau de excelência, e por este motivo foram desenvolvidas as meditações tantricas.

Na corrente SpandaTantra, a meditação é levar o corpo a um estado de imobilidade, a respiração é acalmada pelo processo de segui-la, mas sem interferir em sua dinâmica e por fim os pensamentos são assimilados até que desapareçam por completo, a partir daí começa a surgir uma vibração, que banha o corpo, conferindo saúde, equilíbrio das funções orgânicas, com o tempo vem a cura das funções psíquicas. Restabelecido o corpo, restabelecido a normalidade psíquica, só então começa a ativação do centro da cabeça, que produzirá a iluminação. Em resumo, este é o Tantra Dhyana ou meditação com Kundaliní.

Muitos se perdem ao imaginar que a vibração venha de dentro ou de fora, do espaço exterior, o que deve ser feito é saber-se que esta vibração vem de si mesmo, da consciência. O Tantra é uma das poucas filosofias que não nega o corpo e suas funções, ao contrário trata de primeiro restabelecer a plenitude corporal, depois a plenitude psíquica e por fim a iluminação. A vibração sentida provém da proximidade de ser o si mesmo, auto conhecer-se, esta vibração é chamada fulgor, ou ainda Bhairava.

quarta-feira, 9 de maio de 2007

Meditação e Metanóia



Eis uma lamentável adulteração do ensinamento do Tantra e que se arrasta em várias culturas. A palavra aramaica que Jesus usava é "tob", que significa "retornar", "voltar para Deus". O tantra é um reconhecimento de que somos, ter um vishmaya, é ter uma consciência de si mesmo, ter um samadhi. O sentido desse conceito se expressa bem melhor na palavra grega inicialmente utilizada para traduzi-lo. Essa palavra é metanoia, que, assim como tob, vishmaya, samadhi significa algo muito maior do que simplesmente lastimar a má conduta ou crer em uma evolução da consciência. Assim, o significado original de metanóis é, literalmente, "ir além ou mais alto do que o estado mental ordinário".

Quando nos religamos, o verdadeiro significado do pecado torna-se evidente. Pecado significa literalmente "errar o alvo". Pecado não é simplesmente uma má conduta. É a transgressão da lei divina ou principio cósmico. É a incapacidade de centrar-se em si mesmo, é estar "fora do alvo". Assim, a religião, no sentido mais exato, é um instrumento destinado a despertar-nos para o processo de vir-a-ser cósmico.

O maravilhoso em nós, enquanto natureza-tomando-consciência-de-si-mesma, é que todos temos a capacidade latente de assumir o controle consciente de nossa própria evolução, de construir nossa própria ponte e, assim, tornar-nos membros da nova era, da nova humanidade. Reconhecer-se

Ao longo dessa mudança, deste reconhecimento, existem estágios que podem ser apresentados numa formulação simples: da ortonóia, através da paranóia até a metanóia. Só evoluímos da ortonóia, isto é, do estado usual e prosaico da mente centrada no eu, mas que não se assume; para a metanóia passando pela paranóia, estado no qual a mente está perturbada (isto é separada) e é reorganizada através da disciplina espiritual para que possa ser experimentada uma clara percepção da realidade. As psicologias ocidentais convencionais consideram a paranóia um colapso patológico. Evidentemente, com freqüência ela o é, mas, vista desta perspectiva, não é necessariamente assim. Ao contrário, ela pode ser uma ruptura, não a ruptura final, mas um estádio necessário de desenvolvimento no caminho da percepção do si mesmo.

A paranóia é uma condição bem compreendida pelas tradições místicas e sagradas. As disciplinas espirituais praticadas sob orientação de um guru ou mestre destinam-se a facilitar a acelerar a passagem pela paranóia, para que o aspirante não se perca no labirinto do espaço interior e se torne sua vítima.

Como a metanóia, de um modo em geral, não foi experimentada pelos criadores da psicologia e psicoterapia ocidentais, a paranóia não foi amplamente compreendida em nossa cultura. Ela é vista como um beco sem saída anômalo, e não como um pré-requisito necessário à consciência superior. Não se compreende que a confusão, o incômodo e o sofrimento vivenciados na paranóia se devam inteiramente à destruição de uma ilusão, ou um eu iludido. A ilusão de “AINDA NÃO SER”.

Quanto menos nos apegamos a essa ilusão, menos sofremos. Quando assumimos nossa condição espiritual com consciência e responsabilidade, assumimos que somos e deixamos a paranóia, a separação de lado, pois aquilo que nos separa do que somos é a causa da ilusão e do sofrimento. Então a palavra chave para o Tantra é: reconhecimento.

Bhavazen@globo.com

terça-feira, 17 de abril de 2007

O QUE É TANTRA??


Tantra é um modo de vida e também um ponto de vista espiritual, foi bem desenvolvido na Índia no século X e hoje praticamente inexiste naquele continente. Seu legado está espalhado na artes, na cultura e em diversos textos deixados pelos grupos antigos. Este ponto de vista especial é o "reconhecimento" da nossa natureza espiritual. A vida pouco a pouco nos leva a buscar solucionar nossa existência como Ser frente aos desafios de viver, cada vez mais percebemos que esta solução é necessária e vital. A atitude do tantra é reconhecer que somos consciência e isto pode levar décadas ou simplesmente ser ignorado.

Quando recebi meu Dikshamantra,a iniciação do meu mestre em tantra, recebi a incumbência de usar minha vida e os meios que ela me dá para reconhecer minha condição de consciência e mais, poder levar outras pessoas a este reconhecimento. Talvez daí venha a alcunha das escolas de tantra, de escolas de reconhecimento. Frente ao que outras propostas mostram, este parece ser um caminho despretensioso e sem muito a nos oferecer. Mas os anos me mostraram que cada vez mais aquela vaga palavra foi ganhando sentido dentro de mim e ganhando uma importância fundamental.

O próprio caminhar me mostrou que cada vez que assim que eu abraçava algum tipo de ponto de vista, ou tecnica, logo ela se mostrava ineficiente ou perdia seu poder e aos poucos o Tantra fazia sentido cada vez mais, então em 1984 eu sofri a primeira experiência com energia, e aquele fogo consumiu boa parte do que eu era, me deixando transformado. Foi como se boa parte de mim tivesse desaparecido e logo a minha individualidade tratou de resgatar-se, reunir-se novamente, e assim a cada evento com kundaliní, ela produziu exatamente o que esta descrito pelo tantra, o fogo consumiu boa parte do meu karma.

Caminhar só é dificil, mas estamos realmente sós, reagimos na busca pela nossa liberdade porque sabemos que somos o uno. Eu fui abençoado por conviver com alguém que também está na mesma experiência e teve coragem para ela. Compartilhar a sua iluminação com outra pessoa é maravilhoso, pois nos leva a compaixão, a um melhor entendimento das fraquezas humanas.

Então tantra é a psicologia do Ser, é como o Ser é. É este reconhecimento que nos aproxima cada vez mais do que somos - Consciência.

A experiência transcendental pode ser classificada em 4 tipos distintos:

Anupaya. É a experiência produzida pelo choque da presença de um Ser iluminado, no caso um mestre de Tantra, então a realização do si mesmo ocorre de forma espontânea. ( São meios que ocorrem de forma misteriosa, mas muito potentes)

Shambhava. É a experiência do reconhecimento que ocorre pelo esforço ou pelo meio da vontade, Icchá, do adepto. ( são meios mais duráveis e de percepção direta)

Shakta. É o reconhecimento ocorrido pelo meios dos sentidos, como emoção e sensação. (são meios que através das emoções tocam a percepção e duram alguns dias)

Anava. É o reconhecimento que ocorre pelo esforço em técnicas corporais como mantras, respiração, concentração etc. (são meios que produzem a experiência e logo ela desaparece)


Escolas e tendências - As escolas que adotaram os meios do corpo e do yoga são adeptas do VijnanaBhairavaTantra e mais ligadas aos meios Anava e Shakta; as escolas que adotam os meios Shambhava e Shakta são mais ligadas ao texto SpandaKarikaTantra e as esolas mais ligadas ao Shabhava e ao Anupaya estão mais ligadas ao texto TantraAloka. As diferenças entre elas são extremamante sutis e recomendo a leitura do PratyabhijnaHridaya de kshemaraja. O Shiva Sutras de Vasugupta é uma espécie de resumo de varias tendências.

Como as traduções são quase sempre feitas por pessoas que desconhecem o tantra, estes textos devem ser lidos com cautela e bom senso.

SHIVA SÛTRAS

(Vasugupta)

Vasugupta foi instruído sobre este texto em seus sonhos. O sonho é de grande consideração para o Tantra. Este texto é a fonte de uma extensa e rica linhagem do Tantra. As traduções existentes são sofríveis porque os tradutores não eram tantricos, e nem conheciam o sentido do Tantra, sempre confundindo e complexificando este texto simples, direto e revelador. As palavras em caixa alta são a tradução do texto e as ligaduras, palavras em caixa baixa são minhas, elas fazem o sentido, de outra forma o Shiva Sutra é incompreensível, ele foi feito para ser um veículo de instrução para os mestres de Tantra. Aqui revelo para os meus discípulos e aos estudiosos esta jóia da sabedoria antiga. Bhava.


Livro I

1.- A CONSCIÊNCIA É O SI-MESMO. Como pode haver escravidão sendo a consciência o si mesmo? 2.- A SERVIDÃO É O CONHECIMENTO limitado, uma impureza de fins. A servidão também é 3.- O GRUPO DA ILUSÃO E O CORPO DA ATIVIDADE FRAGMENTADORA. A saber, as impurezas de ilusão e de ação. 4.- A MÃE – O CONJUNTO DOS FONEMAS – É A ENERGIA QUE GOVERNA O CONHECIMENTO. É a linguagem o que engendra as três impurezas assim como o conhecimento limitado, causa da servidão. Como se libertar dela? 5.- A SÚBITA EMERGÊNCIA DA ILUMINAÇÃO É BHAIRAVA, O ABSOLUTO, a emergência da suprema iluminação libertadora do laço, da qual, o yogui, assombrado, descobre pouco a pouco sua expansão: sem desejar o nível superior imediatamente alcançado, ele se orienta para os níveis inferiores para desenvolver neles a sua natureza divina, estendendo a consciência bhairava desde o centro da roda até a periferia. 6.- RECOLHENDO-SE INTENSAMENTE NA RODA DAS ENERGÍAS (energias de felicidade, vontade, conhecimento e atividade. Energias estas próprias e características da Consciência, ou dito de outra maneira; qualidades intimamente unidas ao Real) se obtém A ABSORÇÃO DE TUDO O QUE É. A saber, o universo diferenciado. Resulta dele, com relação a Shiva e a energia, o quarto estado, consciência interiorizada que vai expandir-se até os estados ordinários. 7.- ATÉ NOS ESTADOS DIFERENCIADOS DE VIGÍLIA, DE SONHO E DE SONO PROFUNDO SE PRODUZ A EXPANSÃO DO QUARTO estado. 8.- A VIGÍLIA CONSISTE EM CONHECIMENTO, 9.- O SONHO EM PENSAMIENTO DUAL E 10.- O SONO PROFUNDO NA AUSÊNCIA DE DISCRIMINAÇÃO OU EM ILUSÃO. Como se pode descrever o tantrico que conseguiu penetrar no gozo do quarto estado e nos outros três, e possui poder sobre seus sentidos? 11.- AQUELE QUE DISFRUTA DOS TRÊS estados É O SOBERANO DOS HÉROIS, suas energias sensoriais. Então aí está sua expansão interior, existe algum outro meio que permita reconhecer o cume alcançado pelo tantrico?12.- A MARAVILHA caracteriza AS ETAPAS DESTE YOGA que ele atravessa. Vismaya é o assombro experimentado uma e outra vez, acompanhado de paz e de felicidade inquebrantáveis, e essencial no caminho de Shiva. Desde este momento em diante é a energia divina que flui nele 13.- SUA VONTADE É A ENERGÍA UMÂ, É KUMÂRÎ, A VIRGEM. Energia suprema, ardente, sem laços, ela não é nunca objeto, senão sempre o sujeito. O yogui com ardente vontade possui um corpo universal 14.- SEU CORPO É o mundo PERCEPTIVEL. Tudo o que ele vê é seu corpo. Aonde seu corpo lhe aparece de maneira objetiva? Cómo obter esta Consciencia universal? Há aqui dois meios: O primeiro na via divina, o segundo na via da energia quando ela está muito próxima da via de Shiva: 15.- FAZENDO QUE SE FUNDA POR FRICÇÃO A CONSCIÊNCIA EMPÍRICA NO CORAÇÃO, ELE TEM A VISÃO DO MUNDO PERCEPTÍVEL E DO SVÂPA (o vazio desprovido de toda objetividade), A AUSÊNCIA DE SENSAÇÃO, na via divina. 16.- RECOLHENDO-SE INTENSAMENTE SOBRE A PURA REALIDADE ELE OBTÉM A ENERGIA ILIMITADA. Para o yogui dotado de um tal Conhecimento 17.- seu DISCERNIMENTO É CONHECIMENTO DE SI-MESMO. Conhecimento estendido, já que o Si-mesmo é o universo. Este é seu fruto 18.- A BEATITUDE DO SAMADHI É para ele A FELICIDADE DO MUNDO. Ambas coisas se confundem para ele. Gloria do yogui na via da energia. 19.- RECOLHENDO-SE INTENSAMENTE SOBRE A ENERGÍA, ELE PRODUZ O CORPO desejado. Outros poderes obtidos: 20.- UNIFICAÇÃO DOS ELEMENTOS (corpo, alentos, objetos, etc.), SEPARAÇÃO DOS ELEMENTOS E FUSÃO COM TUDO. Mais vale renunciar a estes poderes e buscar a felicidade da essência e da Ciência. Na via de Shiva, se não aspirar pelos poderes sobrenaturais limitados, se o yogui desejar que se revele o Si-mesmo universal, então 21.- QUANDO APARECE A PURA CIÊNCIA, ISTO É REALIZAR A SOBERANIA SOBRE A RODA das energias.(Chakras e os fonemas) De maneira análoga na via da energia: 22.- QUANDO ELE SE RECOLHE SOBRE O GRANDE LAGO (a suprema consciência que manifesta o universo desde a energia da vontade até o mundo objetivo ordinário), TÊM A EXPERIÊNCIA DA EFICIÊNCIA DOS MANTRAS, palavras sagradas.

Os Demais livros II e III serão publicados em livro, esta postagem visa dar uma orientação basica sobre Tantra em função dos péssimos livros e textos existentes e que afastam o estudante da alma do Tantra.