Kundaliní
Um dos assuntos mais difíceis no contexto da filosofia Tantrica e que sempre leva a caminhos contraditórios, é sobre Kundaliní. Para o Tantra as energias são chamadas de Shaktis e a Consciência é chamada de Shiva. O que é exatamente Kundaliní? Se imaginarmos uma energia em seu estado potencial ou estática, isto é Kundaliní, sabemos que toda energia do Universo já está em alguma forma dinâmica, portanto Kundaliní em sua forma potencial é uma heurística, uma idéia para um uso, mas na prática esta idéia é indefinida. Assim como foi usado o termo libido,a fonte das pulsões por Freud, Kundaliní é uma heurística do Tantra. Em seu estado universal, considerando todo o universo, esta energia, é a energia do universo, é Purna-Shakti ou Purna-Kundaliní, o poder no universo inteiro, o poder cósmico, a energia cósmica já manifestada. Quando vista como energia vital, então Kundaliní é Prana-Shakti ou Prana-Kundaliní, disponível como energia no corpo e pelo corpo em varias modalidades como luz, calor, eletricidade etc Em um terceiro aspecto esta energia se manifesta como consciência Cit, Cit-Shakti ou Cit-Kundaliní, também conhecido como Urdhva Kundaliní pelo seu aspecto de revelar ou elevar a consciência. Então temos dois aspectos da energia, como força vital, Prana e como pensamento, Cit. A Iluminação reside em revelar a consciência pelo uso dos meios vitais, mas não no despertar do poder cósmico, pois este poder já produziu seu fim, em todo o Universo, como Purna-Kundaliní, mas como Prana-Kundaliní
Em algum nível a consciência e a energia do universo estão sempre conectados desde sua origem, logo a consciência em si é um Todo de energia e consciência, em todo o Universo. Este nível onde consciência e a energia estão conectadas, é o Caos, ou a barreira existencial, onde não há o tempo e nem o espaço. Interesse de atual Física Quântica. Então, segundo o Tantra a aparente dualidade, revela pelos meios do Prana ou força vital, aspectos deste mesmo Todo, como luz, imagem, calor, eletricidade etc A energia Kundaliní “desperta” para a consciência, àqueles mesmos aspectos com que a consciência identifica-se, reconhece-se sempre através dos meios vitais.
Qualquer operação com energia alude a uma entropia. Um critério básico para se lidar com energia, é que ela se conserva, ou seja, sempre em qualquer sistema, a quantidade de energia gerada é a mesma que produziu o trabalho. Quando uma parte da energia não pôde ser transformada em trabalho, isto é entropia, esta formação energética em desordem é creditada ao Caos, ao universo das possibilidades, quanto maior a desordem maior a entropia. No nosso corpo a energia produz diversos tipos de trabalho, como calor, eletricidade, reações químicas, movimentos etc o que é comum a todos em momentos de atividade. O Tantra percebeu que a entropia se acentuava, no sono e no recolhimento da meditação, quando naturalmente ou propositadamente um individuo fica parado e sentado, e aí ocorriam fenômenos como visão de luzes, audição de sons, sensações etc Este universo de energias que utilizamos foram chamadas de Shaktis e a energia não utilizada era a Maha-Shakti, Kundaliní, ou o potencial energético,a entropia do Ser. Deste ponto surgiram duas teorias, a da ascensão deste potencial energético, como teoria da subida, Uccara, desta força vital remanescente, e a teoria SpandaTantra, da vibração sutil desta força transcendente, termo que significa, “quase movimento”. A teoria UccaraTantra se apóia nas etapas através dos Chakras, onde esta força destruiria os sons, as Matrikas, sementes sonoras dos Chakras desativando-os, portanto libertando o adepto de seu Karma, desfazendo os condicionamentos, até que por fim ao chegar ao topo da cabeça, promoveria a iluminação. A teoria SpandaTantra, parte da ativação do Chakra superior, pois compreende que a consciência, Shiva, o si mesmo, é a fonte de todos os movimentos manifestos não havendo nada que possa ser feito com energia no sentido de separa-la da consciência, pois em nenhum momento há esta separação real, nesta corrente a entropia é usada para beneficiar o corpo, a mente e as emoções, promovendo descanso, e perfeito funcionamento do todo, como no sono e nos sonhos, mas tudo de forma consciente e proposital. Foi o SpandaTantra que deu origem ao Tantra, como uma filosofia coerente e praticável, como escolas de reconhecimento, ou Pratyabhijna. Foi o uso daquilo que é desprezível, aquilo que não resulta no trabalho, que foi o caminho do tantra, pois ele não acredita no conhecimento, mas usa o poder energético que sobra para realizar o Todo. Foi esta guinada histórica que colocou o Tantra como filosofia efetiva de realização. O Yoga adotou mais os aspectos dinâmicos deste desenvolvimento, como algo por fazer, para se chegar ao entendimento, mas o Tantra, propõe que antes de qualquer prática se compreenda seu ponto de vista, e se busque a lucidez da iluminação para então praticá-lo, a prática consiste em viver segundo o ponto de vista do sagrado, do iluminado. Esta posição do Tantra pode parecer muito desconcertante para a maioria, pois crêem em algum sistema, que pela energia a consciência possa ser atingida ou que pela consciência a energia possa ser revelada.
Certamente não sabemos para onde nem quando a energia, Kundaliní se move, e não importa ao Tantra ter este conhecimento, mas conhecendo seus aspectos usá-lo para viver melhor, se conhecer e desfrutar de ser o si mesmo, aqui e agora. Porque então em qualquer tempo e debaixo de quaisquer condições saberemos que somos, independente do lugar, época ou condição.
De qualquer forma, o conhecimento histórico dos períodos de desenvolvimento do Tantra, e da concepção de Kundaliní são fundamentais para se compreender o esforço e o resultado do Tantra através das gerações. É a compreensão não dinâmica do Universo que produz a ilusão de um fim, uma consciência a ser encontrada, ilusão que se revela sem fim, em desdobramentos infinitos, em um jogo ilusório interminável. O Tantra leva o Ser a reconhecer a si mesmo e então a viver este estado. Kundaliní é o meio, pois manifesta este poder, para beneficio do corpo, e de suas funções que devem chegar a um grau de excelência, e por este motivo foram desenvolvidas as meditações tantricas.
Na corrente SpandaTantra, a meditação é levar o corpo a um estado de imobilidade, a respiração é acalmada pelo processo de segui-la, mas sem interferir em sua dinâmica e por fim os pensamentos são assimilados até que desapareçam por completo, a partir daí começa a surgir uma vibração, que banha o corpo, conferindo saúde, equilíbrio das funções orgânicas, com o tempo vem a cura das funções psíquicas. Restabelecido o corpo, restabelecido a normalidade psíquica, só então começa a ativação do centro da cabeça, que produzirá a iluminação. Em resumo, este é o Tantra Dhyana ou meditação com Kundaliní.
Muitos se perdem ao imaginar que a vibração venha de dentro ou de fora, do espaço exterior, o que deve ser feito é saber-se que esta vibração vem de si mesmo, da consciência. O Tantra é uma das poucas filosofias que não nega o corpo e suas funções, ao contrário trata de primeiro restabelecer a plenitude corporal, depois a plenitude psíquica e por fim a iluminação. A vibração sentida provém da proximidade de ser o si mesmo, auto conhecer-se, esta vibração é chamada fulgor, ou ainda Bhairava.
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